Nota de solidariedade

NOTA DE SOLIDARIEDADE

Sabemos que notas de solidariedade e de repúdio mudam muito pouco: mas elas contribuem na medida em que documentam para o presente e a posteridade nossos posicionamentos éticos; evidenciam para os atingidos/ofendidos que não estão sozinhos e que podem contar conosco; e, por fim, na medida em que contribuem para que se cultive a consciência sobre o estado inaceitável das coisas. Nos últimos meses, em diferentes ocasiões nós nos posicionamos publicamente contra o racismo estrutural e estruturante da sociedade brasileira e contra a desigualdade, o obscurantismo e a redução dos espaços democráticos: em março de 2020, partilhamos e endossamos em nosso Instagram (@literaturaeeducacao) a nota do grupo LitERÊtura em solidariedade à professora Lucimar Rosa Dias, da Universidade Federal do Paraná, que sofreu uma violência racista; pouco antes, emitimos e divulgamos uma nota em solidariedade ao professor Gustavo Forde, da Universidade Federal do Espírito Santo, e de repúdio às manifestações racistas publicadas como comentários a uma entrevista sua para o jornal A Gazeta (ES) (http://www.literaturaeeducacao.ufes.br/conteudo/nota-de-solidariedade-ao-professor-gustavo-forde-e-de-repudio-manifestacoes-racistas); meses antes, gravamos e publicamos vídeo no Youtube em solidariedade à escritora Kiusam de Oliveira, que teve um de seus livros de literatura infantil, de natureza afrocentrada, censurado em uma escola paulistana, e solicitamos que o Conselho Departamental do Centro de Educação e que o Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão da Ufes se manifestassem; um ano antes, nos posicionamos na imprensa contra a desigualdade de gênero no meio acadêmico-científico (http://www.literaturaeeducacao.ufes.br/conteudo/artigo-da-coordenadora-do-grupo-sobre-ser-mulher-na-universidade); em agosto de 2018, manifestamos nossa solidariedade aos organizadores do II Seminário Federalismo e Políticas Educacionais; desde nossa fundação, em 2011, fomos um dos primeiros grupos na Ufes a aceitar e incentivar que mães, na ausência de políticas públicas bastantes, pudessem participar de nossas atividades com suas crianças, mesmo que isso implicasse em alterar um pouco nossa dinâmica. Poderíamos recuar ainda mais e mais no tempo, elencando outras situações em que externamos nossa solidariedade ou repúdio, mas não é este o propósito desta nota; o foco não está sobre nós: estamos apenas mostrando que aqueles que integram nosso grupo e acompanham nosso trabalho não endossam a desigualdade que avilta a dignidade, não endossam injustiças, e combatem preconceitos raciais, de gênero, de classe e suas consequências. Trabalhamos por meio de nossos estudos e pesquisas – desenvolvidos em sua quase sua totalidade por trabalhadoras e trabalhadores das redes públicas de educação que atendem, majoritariamente, a população mais pobre que, não por acaso, é também a população preta e parda – para a superação desse estado de coisas; assim, neste momento, entendemos que não é possível nos omitirmos. Se, por um lado, temos orgulho de sermos constituídos, majoritariamente, por pesquisadoras e pesquisadores pretos e pardos, que têm dado substancial contribuição ao desenvolvimento de nossa área de atuação; por outro lado, temos preocupação com o futuro, na medida em que o direito à vida e, assim, também à ciência, à educação e à cultura estejam ameaçados para aqueles que vêm depois de nós... Por tudo isso, colocamo-nos publicamente em solidariedade a todas as pessoas atingidas pelas violências sistemática contra o povo negro, no Brasil e fora dele: seja por meio do descaso, do abandono, da ausência de políticas públicas efetivamente democráticas, seja por meio da ação direta, como vimos nos assassinatos recentes do menino João Pedro ou de George Floyd. Vidas negras não apenas importam: nós as defenderemos com nosso trabalho, nós trabalharemos em prol de sua dignidade no mundo, hoje e sempre.

Vitória, 03 de junho de 2020.

Maria Amélia Dalvi

Coordenadora do Grupo de Estudos e Pesquisas “Literatura e Educação”

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